Ele se levantou de madrugada para tentar conseguir um atendimento médico no posto de saúde. Já fazia umas três semanas que vinha sentindo dores no peito e elas tinham começado alguns dias depois de ter sido despedido de seu último emprego.
Estava torcendo para que tudo desse certo, porque, no dia seguinte, também teria que madrugar para tentar conseguir uma vaga para seu filho caçula na escola pública perto de sua casa.
Aliás, sua casa era outra de suas preocupações, pois havia sido chamado na COHAB para resolver a questão do financiamento, já que estava com oito prestações atrasadas. Até que antes de perder o emprego ele tinha tentado resolver a situação. Com muito sacrifício havia economizado um dinheirinho, mas no dia em que estava indo para o escritório da COHAB foi assaltado, assim que desceu do ônibus urbano no centro da cidade. Tentou conseguir ajuda, mas não encontrou nenhum policial nas proximidades. Depois foi até o distrito policial, fez o boletim de ocorrência, porém, depois de dois meses, já havia desistido de recuperar o dinheiro roubado.
Quando chegou a sua vez, a moça mal humorada perguntou:
_ Qual é o seu nome?
_ João, João Ninguém.
_ Olha senhor João, consulta com cardiologista só daqui a seis meses!
_ Mas eu estou sentindo muitas dores no peito.
_ Não posso fazer nada! O senhor vai querer marcar ou não?
Como não tinha outro jeito, marcou a consulta.
E lá foi o João Ninguém com seus passos lentos e amargurados.
Como tinha pouco dinheiro no bolso, resolveu caminhar até sua casa. Próximo a um terreno baldio, um velho pediu uma esmola, dizendo que estava com muita fome. João Ninguém pegou o dinheirinho que tinha no bolso e entregou ao homem, se desculpando por só ter aquilo. O homem sorriu e disse:
_ Eu sou um mago. E devido a sua bondade, vou realizar o seu maior desejo. Qual é?
João Ninguém pensou um pouco e lembrou-se do seu tempo de infância, quando lia os gibis do Capitão Marvel. Billy Batson gritava a palavra mágica Shazam e se transformava no invencível super-herói. Sempre desejara ser alguém super e contou ao homem do seu desejo.
O velho disse para escolher qual seria a palavra mágica que usaria.
João Ninguém também se lembrou de que, por várias vezes, tinha ouvido dizer que é através do voto é que se podem mudar as coisas no país e resolveu escolher a palavra Eleição como a sua palavra mágica.
O velho disse que assim seria e foi embora.
Por falta de uma cabine telefônica igual ao do Super-Homem, João Ninguém entrou no banheiro de um boteco e gritou:
_Eleição!
Um raio cruzou o céu num grande estrondo e João Ninguém se transformou no Super Nada!
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