terça-feira, 28 de junho de 2011

Dando um tempo ao tempo

Você já ouviu inúmeras vezes alguém dizer:
_ No meu tempo sim é que era bom!
É claro que era, pois, no “meu tempo”, eu era jovem e acreditava que conquistaria o mundo. E para isso não precisava ter nenhuma pressa. Tinha tempo de sobra para os “embalos” (hoje conhecidos por baladas) e para as “gatinhas”, principalmente porque a pílula anticoncepcional tinha chegado com tudo e não existia a AIDS. Camisinha só era usada em certa “zona” considerada perigosa e, pra ser honesto, nem sempre.
Pois é, no meu tempo sim é que era bom!
Mas será que era tudo isso mesmo? Será que os lendários anos rebeldes, todos inseridos na década de 60, foram tão maravilhosos como são cantados em prosa e versos?
Eu fiz uma análise, procurando ficar completamente isento, e me lembrei que, sem a Internet, quando precisava fazer uma pesquisa escolar, tinha que ir à biblioteca e passar horas, ou dias, procurando.
Lembrei também que para fazer uma ligação interurbana tinha que solicitar à telefonista e que demorava horas para ser completada, isso sem contar que muitas vezes ficávamos um tempão esperando dar linha para fazer uma ligação local.
Computadores (que eram gigantescos) só os bancos tinham e, como a gente não sabia bem o que eram, eles levavam toda a culpa pelos erros encontrados em nossas contas, e é claro que sempre contra nós.
As meninas chamavam um garoto bonito de “pão”. Alain Delon era um pão, Paul MacCartney era um pão. Para minha sorte, tinha um ator francês chamado Jean Paul Belmondo que era feio, mas as mulheres o achavam charmoso.
No meu tempo, leite em pó tinha que ser batido um tempão com uma colher para que dissolvesse no copo.
Foi então que comecei a achar que o meu tempo não era tão bom assim!
E quando me lembrei que carro era Gordini, tive a certeza de que não era mesmo.
As meninas, por influência dos Beatles, só gostavam de garotos com cabelos lisos e eu me lembrei que tinha que dormir com uma ridícula toca feita com meia de seda feminina. Ainda bem que quase no fim da década surgiram os hippies com seus longos cabelos encaracolados e eu pude aposentar as tocas.
E o pior! Elas preferiam os garotos que fumassem e eu embarquei nessa canoa furada onde estou até hoje.
Pra terminar minha análise, eu me lembrei que a noite de 31 de março de 1964 durou 21 anos de escuridão e medo.
É, realmente, meu tempo não foi tão bom assim, mas a gente acreditava no amor eterno. Aliás, pra ser honesto, eu continuo acreditando.
Sabe como é, né? Coisa de coroa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário