quarta-feira, 15 de junho de 2011

O inferno ao telefone

A sexta-feira havia sido terrível! Uma cólica renal tinha me pegado no final da tarde e, depois de muito Buscopan na veia, por volta das 5:30 da madrugada do sábado, eu consegui pegar no sono. Exatamente às 9:00 da manhã meu telefone tocou. Não sei quantas vezes deve ter “berrado” até eu acordar (ou quase acordar), porque, antes de tomar consciência, eu estava sonhando que um elefante pisava no meu pé e que eu fazia força para tirá-lo de debaixo da pata do monstro, sem sucesso.
Depois do meu alô, que deveria estar soando parecido com um vá pra "pequepê", ouvi uma voz feminina de alguém que, com certeza, havia tido uma noite muito bem dormida, depois de ter sido muito bem comida.
            _ Bom dia, senhor! Eu sou da Associação... e estamos ligando para estar pedindo a sua contribuição para o nosso trabalho social que...
            O restante não posso precisar, porque dormi de novo antes dela terminar!
            _ Alô! Alô senhor? O senhor está me ouvindo?
            Como eu não tinha a menor condição de raciocinar, disse um fatídico “sim”.
            _ Pois então, senhor! Estamos ligando para estar pedindo a sua colaboração.
            Sem conseguir entender nada do que estava acontecendo, eu perguntei para que seria a contribuição.
            _ Conforme já disse antes, mas eu vou estar reafirmando para o senhor, o nosso trabalho social é de extrema importância, pois...
            E eu dormi de novo, sem entender pra que aquela matraca estava querendo que eu colaborasse.
            Tornei acordar com uma voz já não tão calma que perguntava:
            _ Senhor? Senhor? O senhor por acaso está brincando comigo?
            Eu tive vontade de retrucar à altura, mas não tinha a menor condição física e mental para isso. Apenas consegui dizer que não. E ela, mais insistente do que certos políticos alegando inocência, mesmo quando são pegos com a boca na botija.
            _ Então podemos estar contando com a sua generosa contribuição?
            E eu que já estava quase dormindo de novo, perguntei.
            _ Contribuição pra que?
            A voz do outro lado começou a soar irritada.
            _ Se o senhor não vai estar querendo colaborar, não precisa estar fazendo isso, basta estar dizendo não!
             _ Tá bom, vou estar dizendo não!
            E quando já ia colocar o telefone no gancho.
            _ Mas acontece, senhor, que a nossa obra é de suma importância e a sua colaboração vai estar...
            _ Por que você não vai estar indo pro inferno?
            O meu grito fez com que minha cachorra latisse lá no quintal.
            _ O senhor é muito inconveniente!
            Foi o que ouvi antes de estar ouvindo o tu-tu-tu e de estar sentindo uma forte fisgada no rim.

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