Rogério chegou ao trabalho e já encontrou Marcão na copa, bebendo café, num copo plástico quase cheio, e com cara de quem não tinha dormido muito bem.
Rogério disse bom dia ao amigo e quis saber:
_ Qual é, Marcão? Que cara é essa, véio?
Marcão tomou mais um gole do café e, sem encarar o amigo, respondeu:
_ Rogério, eu acho que minha mulher está me traindo.
Rogério fez cara de espanto, também tomou um gole do café que acabara de se servir e falou com ar de espanto:
_ Quem, a Carlinha?
_ Claro que é da Carlinha que eu estou falando, ou eu tenho outra esposa!
_ Calma, Marcão! Eu não acredito. A Carlinha? Não, a Carlinha não!
_ Como você pode ter certeza disso?
_ Ora, Marcão, eu conheço a Carlinha desde a adolescência. Ela sempre foi uma menina séria, responsável. Eu não acredito que ela esteja tendo um caso ou coisa assim.
_ Mas acontece que o nosso relacionamento esfriou muito de um tempo pra cá.
_ Há quanto tempo vocês estão casados? Três ou quatro anos?
_ Quase quatro.
_ Pô, véio, é normal! A rotina, o dia-a-dia, faz com que as coisas esfriem um pouco mesmo. É natural, cara!
_ É, mas tem mais. Ontem à noite, ela saiu dizendo que tinha horário marcado com a Dra. Silvia, a dentista dela. Como começou demorar, eu liguei para o consultório e ninguém atendeu. Quando ela chegou, eu me queixei da demora e ela disse que a dentista estava atendendo uma urgência e que ela teve que esperar mais de hora e meia. Pô, cara. A dentista nem no consultório estava à noite.
_ Espera aí, Marcão. Não tire conclusões precipitadas! Talvez o telefone da dentista estivesse com defeito ou coisa assim. Não vá julgando a Carlinha sem mais nem menos. Ela é gente fina, Marcão. Tenho certeza que nunca faria uma coisa dessas com você e com ninguém, véio!
_ Acho que você tem razão. Estou deixando me levar por minha imaginação. A Carlinha sempre foi muito companheira. Deve ser apenas uma fase que estamos passando.
_ É isso aí, cara! Bola pra frente. Tira essas merdas da cabeça e vamos ao trampo porque as contas não esperam.
Marcão deu um abraço em Rogério e foi para sua sala pensando em como é bom ter um amigo com quem se pode contar.
Rogério também foi para sua sala. Tirou o paletó, colocou no encosto da cadeira, ligou o telefone e esperou.
_ Carlinha? É Rogério. O bicho quase pegou. Vamos ter que tomar mais cuidado, porque ele já está bastante desconfiado. Tá, depois a gente se fala. Beijão, gata!
Depois de colocar o fone no gancho Rogério pensou:
_ Pô, eu sou um canalha mesmo, mas a Carlinha é um “negócio” fora do comum!
E antes de começar o dia de trabalho falou em voz baixa:
_ Amigos, amigos, “negócios” a parte!
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