quarta-feira, 29 de junho de 2011

A despedida de solteiro


Depois de uma semana, com direito ao café da manhã, em Porto Seguro, Alfredo voltou seguro do que iria fazer: iria atracar seu navio no porto, ou seja, iria se casar, pois com toda certeza, tinha encontrado a mulher de sua vida.
Irina era exatamente tudo aquilo que ele tinha procurado em todas as mulheres com quem tinha se relacionado até então. Prestes a completar 35 anos, para Alfredo era o momento certo e a mulher certa.
A mãe, preocupada como todas as mães, apesar de achar que o filho já estava passando da hora de constituir um lar, dizia para ele pensar um pouco melhor e dar um tempo, antes de tomar decisão tão importante. Mas Alfredo exibia as fotos que tinha tirado com Irina na Praia Taperapuã e garantia que não tinha mais nada a pensar.
Realmente, Irina era um monumento de mulher: uma Jennifer Lopez da cintura pra baixo e uma Angelina Jolie siliconada da cintura pra cima. Tinha 27 anos, era catarinense, descendente de alemães, formada em psicologia nos Estados Unidos e, assim como ele, estava completamente apaixonada. Os dias (principalmente as noites) que passaram juntos tinham sido suficientes para provarem que tinham nascido um para o outro.
Foram três semanas de telefonemas intermináveis para Blumenau. Horas e horas de vozes baixas, sorrisos marotos e declarações apaixonadas. Decidiram que o casamento seria em Porto Seguro, local que serviu como ponto de encontro de duas almas que se procuraram por tanto tempo.
Alfredo contou aos amigos, mostrou as fotos e não pode evitar as brincadeiras de praxe:
_ Se precisar de ajuda, pode contar comigo!
_ Se não der 10 litros de leite eu chuto o balde!
_ Com todo respeito Alfredo, mas que bumbum! E essa borboleta tatuada na nádega direita é o maior tesão!
Alfredo não se importava, pelo contrário, gostava dos elogios e brincadeiras, pois sabia que Irina era dona de um corpo maravilhoso, mas fazia questão de dizer que, além de ser bonita, sua noiva tinha uma cabeça especial, era inteligente, culta e bem informada.
De tanto descrever os atributos intelectuais da noiva e mais os atributos que as fotos comprovavam, os amigos de Alfredo chegaram à conclusão de que ele tinha tirado a sorte grande. Alguns, que até já sentiam uma pontinha de inveja por ele ser o único solteirão do grupo, agora o invejavam porque iria se casar com um avião daqueles.
Bom, e já que Alfredo iria mesmo se casar, era preciso organizar uma despedida de solteiro digna do momento.
Jorjão emprestou a chácara, Rodrigo contratou o churrasqueiro e cuidou das carnes, Nenê conseguiu as “cevas” e o resto das bebidas mais em conta com o tio, dono de uma distribuidora, e Fernandão arrumou as garotas e os DVDs pornográficos para esquentar a festa.
Todos eles inventaram uma pescaria, para dar satisfações às respectivas esposas, e, na sexta-feira, à tarde, se mandaram para a chácara.
O braseiro da churrasqueira já estava quase no ponto quando Fernandão chegou com a mulherada. Eram seis, de todos os tipos e para todos os gostos.
Quando a picanha começou a ser fatiada, o álcool já tinha rolado solto e a descontração era total, apenas duas das garotas insistiram em permanecer de calcinhas; todo o resto do pessoal estava completamente nu, menos o churrasqueiro é claro, talvez para evitar possíveis acidentes com as fagulhas do carvão.
Fernandão chamou todo mundo para a sala, ligou a o telão que tinha pegado “emprestado” da empresa onde trabalhava e colocou um DVD de sacanagem.
Enquanto as cenas explicitas rolavam no telão, as coisas começaram a pegar fogo na sala. Só o coitado do churrasqueiro ficou lá fora com a picanha na mão.
Quando o filme já estava quase terminando e o pessoal da sala já tinha terminado há algum tempo, no telão, apareceu uma tremenda mulher, mascarada e com um chicote na mão, rodeada por cinco homens.
Soberana, ela exigia de seus escravos todo tipo de serviço possível e mostrava ser uma mestra que sabia o que fazer. Quando a ação já envolvia os seis de uma só vez, Jorjão foi o primeiro a notar. Olhou para Fernandão e este chamou a atenção de Alfredo.
A borboleta tatuada na nádega direita era igualzinha! Olhando melhor, o corpo era idêntico. Quando, no final da cena, a atriz tirou a máscara, não restou dúvidas: era Irina. Quando a câmera fechou, em zoom, no rosto da atriz que exibia um sorriso maroto, o desabafo de Alfredo saiu impregnado de dor:
_ Vagabunda!
Fernandão levou as garotas embora. Rodrigo pagou e dispensou o churrasqueiro, que saiu sem entender nada, pois a carne ainda não tinha acabado. Enquanto Nenê recolhia as garrafas em volta da piscina, Jorjão sentou-se no degrau da escada, ao lado de Alfredo e, colocando o braço nos ombros do amigo, disse:
_Se você gosta mesmo dela e ela de você, imagine que aquilo foi a despedida de solteira dela, assim como a sua!
Alfredo olhou para Jorjão, deu um sorriso amarelo e caminhou em direção ao seu carro estacionado perto do portão de entrada da chácara.
Na semana seguinte, foi o próprio Jorjão quem levou Alfredo até o aeroporto para que ele tomasse o avião em direção à Porto Seguro.
Não sei se é verdade, mas dizem que Alfredo e Irina estão, em Blumenau, vivendo felizes para sempre.

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