sexta-feira, 10 de junho de 2011

A trilha sonora de uma vida


Outro dia, eu estava pensando que, se a vida da gente é como um filme, ela também tem uma trilha sonora. Então comecei montar, mentalmente, a trilha sonora da minha vida. Não me lembro do “Nana Neném”, mas tenho viva na lembrança a “Ciranda, Ciradinha” e o “Vamos passear na floresta enquanto seu lobo não vem”, porque eu fui uma “Criança feliz, feliz a cantar” que, prontamente, obedecia a ordem do “dá um tapa na bunda e vai se esconder”. Nessa época, já fica imaginando quem seria a tal da “Chiquita Bacana lá da Martinica” que se vestia com uma casca de banana nanica. Foi também nessa época que, pelo rádio, fiquei sabendo que “Detefon é que mata moscas e mosquitos, pulgas e baratas”, que “Pílulas de Vida do Dr. Ross, vida e saúde para todos nós” e que “Melhoral, Melhoral, é o melhor e não faz mal”. “Se o senhor não está lembrado, dá licença de eu contar” que “Com a filha de João, Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva, na hora de ir pro altar”. E a vida ficava ainda mais feliz toda vez que eu recebia a notícia de que “Bate o sino, pequenino, sino de Belém” e perdi a conta de quantas vezes “Botei meu sapatinho, na janela do quintal”. Como o tempo não pára, de repente eu já estava numa verdadeira “Dança das Horas” num “Rock Around the Clock”, tomando “Banho de Lua” e à procura de um “Broto Legal”. É claro que, como todo adolescente, eu tive meus momentos de “Quero que vá tudo pro inferno”, mas o que eu realmente queria era “I Wanna Hold your Hand”. E quando menos esperava, exatamente quando eu esta à-toa na vida, eu vi “A Banda” passar e a segui em “Disparada”, “Sem lenço e sem documento, num sol de quase dezembro”. E por ter caminhado demais, fui obrigado a ir, mas como “Sabiá” cantava sempre “Vou, vou, vou, sei que ainda vou voltar”. Longe da “Garota de Ipanema”, o que me restava era a cinzenta “London, London”. Mas “O Bêbado e a Equilibrista”, num rabo de foguete, me avisaram que estava na hora e então eu disse “Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto que eu tô voltando”. Não demorou e eu cheguei em frente ao portão e, enquanto meu cachorro me sorriu latindo, eu disse com toda certeza “Eu voltei agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar”. Ao sair às ruas pude ouvir “Salve, como é que vai? Amigo há quanto tempo”! E então acreditei que em pouco tempo não ouviria mais o “Cálice”.  E a trilha sonora da minha vida parou por aí, porque depois disso meu filme ficou mudo, mas sem a graça e a ternura do Charles Chaplin. Prefiro que continue mudo porque “Entre Tapas e Beijos” me recusei a dançar na “Boquinha da Garrafa”. Eu prefiro seguir a pé “Caminhando e cantando e seguindo a canção” do que cavalgar numa “Éguinha Pocotó”, porque, com toda certeza, nunca “Vai ter festa lá no meu apê”.

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