segunda-feira, 20 de junho de 2011

Correndo riscos

Quando eu cheguei lá no bar da esquina, já estava instalada a discussão. Alguns estavam até um tanto exaltados ao defenderem suas opiniões. Por incrível que pareça, desta vez o tema não era política e nem futebol.
O pomo da discórdia era: o correto é dizer “correr risco de vida” ou “correr risco de morte”? E eu que pretendia apenas entrar, comprar dois torresmos e ir embora, fui envolvido naquela celeuma cuja solução parecia ser a salvação do planeta.
Dei algumas opiniões tão idiotas quanto à importância que se dava à discussão e também ouvi alguns argumentos tão imbecis quanto os meus. Entre eles, aqueles que defendiam o “risco de morte”, citavam como fonte os atuais repórteres televisivos, principalmente os dos noticiários policiais.
Dei como desculpa que os torresmos estavam esfriando e fui embora. Porém, como sempre acontece, não consegui tirar a pergunta da minha cabeça. Afinal quem estaria certo?
Mais tarde, fui buscar fontes seguras que pudessem me ajudar encontrar a resposta. Nada melhor do que procurar nas obras de grandes escritores brasileiros.
Lendo, vi que José de Alencar, há 150 anos, usou, por várias vezes, a expressão “correr risco de vida”.
Continuei minha pesquisa e também descobri que Machado de Assis, há 100 anos, concordava com ele. Então por que será que atualmente resolveram inverter as coisas?
Mesmo com alguma preguiça (talvez devido aos torresmos, que estavam deliciosos, mas bem gordurosos) resolvi raciocinar.
Quem gosta de jogar, por exemplo, quando aposta corre o risco de perder aquilo que apostou, mas também corre o risco de ganhar bem mais do que colocou em jogo. Esse raciocínio não resolveu nada, mas mesmo assim decide usá-lo na questão específica.
Em qualquer situaçãom quem corre riscos é porque coloca em jogo alguma coisa preciosa que pode ser perdida, no caso, a própria vida. Portanto estaria colocando a vida em risco ou “correndo risco de vida”. Mas quem coloca a vida em jogo está arriscando morrer, o que nos leva a concluir que estaria correndo o risco de morrer, no entanto “correndo risco de morte”. Assim só poderia concluir que as duas formas estão corretas.
Então, só faltava decidir qual das duas formas eu passaria a usar daqui pra frente.
Pensei um pouco e decidi que iria continuar usando “correr risco de vida”.
E porque resolvi assim?
Porque, mesmo que, por ventura, possa estar errado, eu estarei em boa companhia no que se refere ao conhecimento de nosso idioma, enquanto que no outro caso, me desculpem, mas confesso que tenho cá minhas dúvidas.

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