quarta-feira, 29 de junho de 2011

Algumas verdades sobre a mentira


Vamos falar a verdade: a mentira é necessária.
Se a mentira tem pernas curtas ou faz crescer o nariz eu não sei, mas se não fosse ela o mundo seria um caos e a humanidade, se ainda existisse, viveria em completa insanidade.
Mentimos, não apenas para esconder a verdade, mas, principalmente, para que sejamos suportados pelos que nos rodeiam. E também sabemos que as pessoas nos mentem, porém fingimos acreditar para que possamos suportá-las.
Em síntese, ninguém está preocupado com o comprimento das pernas da mentira e, quanto ao nariz, se antes não era problema, imagine agora com as técnicas cada vez mais aperfeiçoadas de cirurgias plásticas.
O filósofo estadunidense David Livingstone Smith, afirma que o ser humano é mentiroso por natureza e que a mentira é “o pilar das relações sociais”, portanto todos nós somos “programados” para enganar desde os primórdios da humanidade, seja para nos proteger, seja para levar vantagem. “A mentira traz vantagens indiscutíveis. Bons mentirosos são mais populares e bem sucedidos. Têm mais status social e melhores salários.” E mais: “Mentimos melhor quando não sabemos que estamos mentindo, ou seja, quando enganamos a nós mesmos.”
Está aí o Lula (que não sabia de nada) para comprovar a teoria de Livingstone.
Eu não sou filósofo, mas às vezes penso e isso é verdade, por incrível que pareça. Eu tenho uma teoria sobre o assunto. Acho que o maior culpado pela mentira não é quem a produz, mas sim quem acredita nela. Isso porque o mentiroso diz o que o “mentirado” quer ouvir, pois isso facilita as coisas.
Vou dar um exemplo prático em duas situações diferentes.
Primeira: Você recebe de presente uma camisa da sua namorada. Ela olha pra você com uma grande expectativa. Você diz que achou a camisa horrível. Pronto, magoou a namorada e o relacionamento tem grande chance de ir por água abaixo.
Segunda: Apesar de ter detestado, diz “adorei”! Resolvida a questão, pois, para ela, o que mais importa é ter sido aprovada na escolha e está pouco se lixando pra sua sinceridade.
Quanto ao fato de que, com o passar do tempo, você nunca vir a usá-la (me refiro à camisa e não à namorada), basta dizer que a sua empregada doméstica se distraiu e deixou o ferro sobre ela (mais uma vez da camisa e não da namorada) na hora de passá-la. Ela (a namorada e não a camisa) com certeza vai saber que é mentira, mas e daí? O ego dela já foi massageado!
Alguém já disse que você pode tirar tudo de uma pessoa, menos a ilusão, mesmo que seja necessário mentir para mantê-la.
Então, para encerrar, a culpa da mentira do político é de quem acredita nela para manter a sua própria ilusão.

A despedida de solteiro


Depois de uma semana, com direito ao café da manhã, em Porto Seguro, Alfredo voltou seguro do que iria fazer: iria atracar seu navio no porto, ou seja, iria se casar, pois com toda certeza, tinha encontrado a mulher de sua vida.
Irina era exatamente tudo aquilo que ele tinha procurado em todas as mulheres com quem tinha se relacionado até então. Prestes a completar 35 anos, para Alfredo era o momento certo e a mulher certa.
A mãe, preocupada como todas as mães, apesar de achar que o filho já estava passando da hora de constituir um lar, dizia para ele pensar um pouco melhor e dar um tempo, antes de tomar decisão tão importante. Mas Alfredo exibia as fotos que tinha tirado com Irina na Praia Taperapuã e garantia que não tinha mais nada a pensar.
Realmente, Irina era um monumento de mulher: uma Jennifer Lopez da cintura pra baixo e uma Angelina Jolie siliconada da cintura pra cima. Tinha 27 anos, era catarinense, descendente de alemães, formada em psicologia nos Estados Unidos e, assim como ele, estava completamente apaixonada. Os dias (principalmente as noites) que passaram juntos tinham sido suficientes para provarem que tinham nascido um para o outro.
Foram três semanas de telefonemas intermináveis para Blumenau. Horas e horas de vozes baixas, sorrisos marotos e declarações apaixonadas. Decidiram que o casamento seria em Porto Seguro, local que serviu como ponto de encontro de duas almas que se procuraram por tanto tempo.
Alfredo contou aos amigos, mostrou as fotos e não pode evitar as brincadeiras de praxe:
_ Se precisar de ajuda, pode contar comigo!
_ Se não der 10 litros de leite eu chuto o balde!
_ Com todo respeito Alfredo, mas que bumbum! E essa borboleta tatuada na nádega direita é o maior tesão!
Alfredo não se importava, pelo contrário, gostava dos elogios e brincadeiras, pois sabia que Irina era dona de um corpo maravilhoso, mas fazia questão de dizer que, além de ser bonita, sua noiva tinha uma cabeça especial, era inteligente, culta e bem informada.
De tanto descrever os atributos intelectuais da noiva e mais os atributos que as fotos comprovavam, os amigos de Alfredo chegaram à conclusão de que ele tinha tirado a sorte grande. Alguns, que até já sentiam uma pontinha de inveja por ele ser o único solteirão do grupo, agora o invejavam porque iria se casar com um avião daqueles.
Bom, e já que Alfredo iria mesmo se casar, era preciso organizar uma despedida de solteiro digna do momento.
Jorjão emprestou a chácara, Rodrigo contratou o churrasqueiro e cuidou das carnes, Nenê conseguiu as “cevas” e o resto das bebidas mais em conta com o tio, dono de uma distribuidora, e Fernandão arrumou as garotas e os DVDs pornográficos para esquentar a festa.
Todos eles inventaram uma pescaria, para dar satisfações às respectivas esposas, e, na sexta-feira, à tarde, se mandaram para a chácara.
O braseiro da churrasqueira já estava quase no ponto quando Fernandão chegou com a mulherada. Eram seis, de todos os tipos e para todos os gostos.
Quando a picanha começou a ser fatiada, o álcool já tinha rolado solto e a descontração era total, apenas duas das garotas insistiram em permanecer de calcinhas; todo o resto do pessoal estava completamente nu, menos o churrasqueiro é claro, talvez para evitar possíveis acidentes com as fagulhas do carvão.
Fernandão chamou todo mundo para a sala, ligou a o telão que tinha pegado “emprestado” da empresa onde trabalhava e colocou um DVD de sacanagem.
Enquanto as cenas explicitas rolavam no telão, as coisas começaram a pegar fogo na sala. Só o coitado do churrasqueiro ficou lá fora com a picanha na mão.
Quando o filme já estava quase terminando e o pessoal da sala já tinha terminado há algum tempo, no telão, apareceu uma tremenda mulher, mascarada e com um chicote na mão, rodeada por cinco homens.
Soberana, ela exigia de seus escravos todo tipo de serviço possível e mostrava ser uma mestra que sabia o que fazer. Quando a ação já envolvia os seis de uma só vez, Jorjão foi o primeiro a notar. Olhou para Fernandão e este chamou a atenção de Alfredo.
A borboleta tatuada na nádega direita era igualzinha! Olhando melhor, o corpo era idêntico. Quando, no final da cena, a atriz tirou a máscara, não restou dúvidas: era Irina. Quando a câmera fechou, em zoom, no rosto da atriz que exibia um sorriso maroto, o desabafo de Alfredo saiu impregnado de dor:
_ Vagabunda!
Fernandão levou as garotas embora. Rodrigo pagou e dispensou o churrasqueiro, que saiu sem entender nada, pois a carne ainda não tinha acabado. Enquanto Nenê recolhia as garrafas em volta da piscina, Jorjão sentou-se no degrau da escada, ao lado de Alfredo e, colocando o braço nos ombros do amigo, disse:
_Se você gosta mesmo dela e ela de você, imagine que aquilo foi a despedida de solteira dela, assim como a sua!
Alfredo olhou para Jorjão, deu um sorriso amarelo e caminhou em direção ao seu carro estacionado perto do portão de entrada da chácara.
Na semana seguinte, foi o próprio Jorjão quem levou Alfredo até o aeroporto para que ele tomasse o avião em direção à Porto Seguro.
Não sei se é verdade, mas dizem que Alfredo e Irina estão, em Blumenau, vivendo felizes para sempre.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A última utopia


Não sei por que me lembrei disso!
Talvez, porque o mês de maio tenha acabando para dar lugar a um junho, que já foi de inverno quando o clima ainda não estava tão viciado em CO2.
Talvez, porque eu tenha descoberto que sou um otimista utópico e teimo em acreditar que dessa vez vai!
É, talvez, por ser um utópico que me lembrei da Última Utopia.
Se você não se lembra ou não sabe o que foi considerado como “A Última Utopia”, não se preocupe, porque não vai afetar o preço da seriguela ao Norte do Timor Leste.
Há 43 anos, num dia 10 de maio, 20 mil estudantes enfrentaram a polícia em Paris, na noite das barricadas, auge das revoltas de 1968, quando milhões de jovens em todo o mundo saíram às ruas para mudar a vida.
O Maio Francês foi também feito por palavras de ordem em frases pichadas por toda Paris, que marcaram simbolicamente aquele momento.
Caetano Veloso, inclusive, utilizou-se de uma delas como título para uma de suas composições tropicalistas: “É proibido proibir”.
Num momento em que o mundo efervescia em criatividade em praticamente todas as áreas, as velhas regras eram vistas e sentidas como grilhões, então pediam: “A imaginação no poder”.
E, porque reivindicavam mudanças drásticas de direcionamento, aqueles jovens eram, na maioria das vezes, tachados como simples anarquistas visionários e, como resposta, escreviam: “Sejam realistas, exijam o impossível”.
Para os críticos mais ferrenhos a frase era: “Quando o dedo mostra a Lua, o imbecil olha o dedo”.
Se a critica era direcionada pelas barricadas que faziam, como forma de protesto, a reposta vinha na frase: “Barricadas fecham as ruas, mas abrem caminho”.
Para aqueles que ainda acreditavam que a censura era absolutamente necessária para manter um pleno equilíbrio social, a frase era: “As paredes têm ouvidos; seus ouvidos têm paredes”.
Aqueles gritos de protesto ecoaram por aqui e, com certeza, incentivaram uma reação mais acentuada contra o governo militar que desde 1964 já fazia o que queria do Brasil.
Em dezembro de 1968, o presidente (ou ditador?) Artur da Costa e Silva assinou o Ato Institucional número cinco que fechou o Congresso Nacional por prazo indeterminado; cassou mandatos de senadores, deputados, prefeitos e governadores; interveio no Poder Judiciário, inclusive demitindo juízes; tornou legal legislar por decretos; decretou estado de sítio; suspendeu a possibilidade de qualquer reunião; recrudesceu a censura, determinando a censura prévia, que se estendia à música, ao teatro e ao cinema e suspendeu o “habeas corpus” para os chamados crimes políticos.
Ou seja, enquanto a França vivia “A Última Utopia” nós continuávamos a viver “Mais uma Miopia”.

Dando um tempo ao tempo

Você já ouviu inúmeras vezes alguém dizer:
_ No meu tempo sim é que era bom!
É claro que era, pois, no “meu tempo”, eu era jovem e acreditava que conquistaria o mundo. E para isso não precisava ter nenhuma pressa. Tinha tempo de sobra para os “embalos” (hoje conhecidos por baladas) e para as “gatinhas”, principalmente porque a pílula anticoncepcional tinha chegado com tudo e não existia a AIDS. Camisinha só era usada em certa “zona” considerada perigosa e, pra ser honesto, nem sempre.
Pois é, no meu tempo sim é que era bom!
Mas será que era tudo isso mesmo? Será que os lendários anos rebeldes, todos inseridos na década de 60, foram tão maravilhosos como são cantados em prosa e versos?
Eu fiz uma análise, procurando ficar completamente isento, e me lembrei que, sem a Internet, quando precisava fazer uma pesquisa escolar, tinha que ir à biblioteca e passar horas, ou dias, procurando.
Lembrei também que para fazer uma ligação interurbana tinha que solicitar à telefonista e que demorava horas para ser completada, isso sem contar que muitas vezes ficávamos um tempão esperando dar linha para fazer uma ligação local.
Computadores (que eram gigantescos) só os bancos tinham e, como a gente não sabia bem o que eram, eles levavam toda a culpa pelos erros encontrados em nossas contas, e é claro que sempre contra nós.
As meninas chamavam um garoto bonito de “pão”. Alain Delon era um pão, Paul MacCartney era um pão. Para minha sorte, tinha um ator francês chamado Jean Paul Belmondo que era feio, mas as mulheres o achavam charmoso.
No meu tempo, leite em pó tinha que ser batido um tempão com uma colher para que dissolvesse no copo.
Foi então que comecei a achar que o meu tempo não era tão bom assim!
E quando me lembrei que carro era Gordini, tive a certeza de que não era mesmo.
As meninas, por influência dos Beatles, só gostavam de garotos com cabelos lisos e eu me lembrei que tinha que dormir com uma ridícula toca feita com meia de seda feminina. Ainda bem que quase no fim da década surgiram os hippies com seus longos cabelos encaracolados e eu pude aposentar as tocas.
E o pior! Elas preferiam os garotos que fumassem e eu embarquei nessa canoa furada onde estou até hoje.
Pra terminar minha análise, eu me lembrei que a noite de 31 de março de 1964 durou 21 anos de escuridão e medo.
É, realmente, meu tempo não foi tão bom assim, mas a gente acreditava no amor eterno. Aliás, pra ser honesto, eu continuo acreditando.
Sabe como é, né? Coisa de coroa!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Monólogos, diálogos e bate-papos



Depois do enorme sucesso que a peça de teatro “Monólogos da Vagina” fez e, em seguida, o “Diálogo do Pênis”, eu resolvi também escrever uma.
Para isso, decidi dar uma de José Serra que, quando era ministro da Saúde, pegava a fórmula, mudava a embalagem e chamava de genérico, ou de Silvio Santos que sempre meteu a mão descaradamente, sem respeitar os direitos de ninguém.
Assim sendo, eu vou escrever uma peça genérica intitulada “Bate-papo do Cacete”.
A peça terá apenas dois personagens: Bráulio Carvalho e o Paulo Bilau.
Bráulio é tímido e bem franzino. Bilau é bastante extrovertido e sarado.
Os dois se encontram na esquina da Rua da Cueca com Avenida Ceroula e começa o bate-papo.
Bilau: _ E daí, Bráulio, firme?
Bráulio: _ Que firme nada! Estou pra baixo, cara!
Bilau: _ E por que, meu? O quê que tá pegando?
Bráulio: _ O problema é esse mesmo, não tô pegando nada!
Bilau: _ Qual é, rapá, está perdendo o jeito?
Bráulio: _ Sei lá, eu acho que é esse negócio da gente ter que usar “capa de chuva” toda vez que vai sair, ou melhor, entrar!
Bilau: _ Eu sei que incomoda, mas não tem outro jeito, cara, tem que usar mesmo!
Bráulio: _ Pois é, mas eu me atrapalho toda vez que tenho que vestir a tal capa e com isso perco o pique, sabe como é!
Bilau: _ Pô, brother, você ainda não ouviu falar da tal pílula azul? Pois então! Quem sabe ela ajuda!
Bráulio: _ Mas será que não faz mal?
Bilau: _ Bom, no seu caso eu acho que você deve tomar só metade!
Bráulio: _ Por quê?
Bilau: _ Devido ao seu tamanho! Uma pílula inteira pode ocasionar overdose! Eh! Eh! Eh!
Bráulio: _ Vai gozando, vai!
Bilau: _ O problema é este mesmo, brother! Eu estou gozando, você é que não está! Ah! Ah! Ah! Aliás, você já deve saber bem qual a diferença entre preocupação e desespero, né?
Bráulio: _ Como assim?
Bilau: _ Preocupação é o que se sente quando, pela primeira vez, não consegue dar a segunda e desespero é quando, pela segunda vez, não consegue dar a primeira!
Bráulio: _ Pô, cara, você é um saco, hein!
Bilau: _ Sou não, ele é só meu vizinho! Ah! Ah! Ah!
Bráulio: _ Quer saber, depois dessa eu estou indo!
Bilau: _ Falou, compadre, vai indo, porque eu estou sempre indo e vindo... indo e vindo... indo e vindo!

Afinal, Deus existe ou não existe?



Hoje, eu me lembrei de uma piada antiga que cabe como uma luva para o momento que vivemos.
Um astronauta viajou décadas pelo espaço e quando voltou a Terra, depois de dizer que tinha estado em todos os cantos do Universo (se é que o Universo tem cantos), foi cercado pela imprensa mundial e lhe foi feita a pergunta:
_ Você viu Deus?
O astronauta pensou um pouco e respondeu:
_ Não! Eu não vi Deus, por isso garanto que Deus não existe!
Foi manchete em todos os jornais, revistas e telejornais do mundo.
O papa, ao saber disso, pediu que o astronauta fosse visitá-lo. Durante a conversa, o papa argumentou que o fato dele não ter visto Deus não garantia que Deus não existe e pediu que ele voltasse atrás na sua afirmação.
O astronauta disse que, se fizesse isso, perderia sua credibilidade e deixaria de faturar pelo seu feito.
O papa, então, lhe deu um milhão de dólares para ressarcir seus possíveis prejuízos.
O astronauta reuniu a imprensa de todos os países e disse:
_ Eu estive pensando e cheguei à conclusão de que, num determinado momento de minha viagem, eu vi uma forte luz que não consegui explicar o que poderia ser. Agora, cheguei à conclusão que aquela luz é Deus. Deus existe!
Novas manchetes em todo o mundo:
Astronauta garante que Deus existe!
Os comunistas chamaram o astronauta e disseram que sua afirmação anterior ia de encontro à filosofia deles, mas que, ao voltar atrás, estava indo diretamente contra as idéias comunistas. Depois de conversarem, ofereceram dois milhões de dólares para que ele novamente retrocedesse garantindo que Deus não existe.
O astronauta, mais uma vez, reuniu a imprensa mundial e garantiu que, depois de alguns cálculos físicos, havia chegado à conclusão de que aquela luz era apenas uma nova estrela se formando e que agora tinha certeza de que Deus realmente não existe.
No dia seguinte as manchetes do mundo todo estampavam as declarações do único homem que havia viajado por todos os cantos do Universo.
Barack Obama quis colocar aquela história a limpo e chamou o astronauta para conversar, afinal, é compromisso dos Estados Unidos lutarem em favor da verdade e da liberdade, sem o menor interesse.
Quando os dois se encontraram, Obama chegou a ser duro com o homem:
_ Você retorna de sua viagem e diz que Deus não existe. Depois chama a imprensa e diz que Deus existe. Depois novamente volta atrás e garante que Deus não existe. Afinal, Deus existe ou não existe?
O astronauta olhou para os lados, se aproximou do presidente norte-americano e, ao pé do ouvido, disse:
_ Deus existe! Mas é muçulmano!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Templo é dinheiro



Infelizmente, eu cheguei a uma triste conclusão: com trabalho duro e honesto, pagando os impostos honestamente e todas as minhas contas em dia, eu não vou chegar a lugar algum! Então, resolvi mudar minha vida e pensei no que eu poderia fazer para ganhar bastante dinheiro.
Jogar futebol não tem mais jeito, porque já passei da idade e mesmo quando tinha a idade certa não era lá grande coisa.
Olhei minha bunda no espelho e aquela idéia de formar um grupo de axé-music desapareceu no ato.
Eu tenho um 1,80m e então concluí que sou muito alto para tentar a música sertaneja.
Cheguei a pensar em entrar na política, porém, como quando eu era criança, toda vez que eu mentia, meu pai me dava castigo, eu não treinei o suficiente para estar preparado para a profissão.
Pensei em fazer um curso de torneiro mecânico e decepar o dedinho, talvez da mão esquerda, mas a idéia já não é original.
Estava quase desistindo, me conformando com o meu triste destino de trabalhador honesto e sem a menor chance de sucesso, quando uma luz se acendeu em meu cérebro. Aliás, eu tratei logo de apagar a tal luz porque com o preço da energia elétrica a gente não pode nem ter uma idéia muito brilhante.
Eu sei que, atualmente, existe uma em cada esquina, mas eu me decidi e vou criar uma igreja. Já tenho o curso de Filosofia, então faço um de Teologia (talvez por correspondência ou on-line) e pronto. Juntando com a minha longa experiência em marketing, já posso pensar em montar o meu negócio, ou melhor, a minha igreja.
Fiz uma pesquisa de mercado e descobri que existem muitas pessoas cansadas das que estão por aí, então, para atrair os fiéis, já criei um texto que vou mandar imprimir e distribuir nos semáforos.
Ele diz assim:
Você já está cansado da sua igreja? Então venha para a nossa!
Somos uma congregação bem lite e moderna, organizada e feita na medida para você.
Damos desconto de 25% no dízimo.
Nosso culto tem apenas 20 minutos e os sermões não passam dos 5 minutos.
Seguimos apenas cinco mandamentos e você pode escolher apenas três entre eles.
Guiamo-nos apenas por um Salmo: O Senhor é meu pastor e nada me faltará.
Usamos apenas um Evangelho, totalmente apostilado e com linguagem moderna, atual, onde o uso de gírias é plenamente aceito.
Temos dez cultos por dia e recolhemos as ofertas, culto sim, culto não.
Aceitamos todos os cartões de crédito, ticket refeição e vale transporte.
Venha nos conhecer e alcance o Paraíso pagando muito menos.
Tenho certeza de que vai ser um sucesso.
Agora, só falta escolher o nome para minha igreja. Estou bastante inclinado em batizá-la como: Deus é Humor.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tempos mais que modernos


Em alguns países, a prostituição está sendo, cada vez, mais aceita como uma profissão como outra qualquer e, por isso mesmo, precisa deixar de ser discriminada.
Na opinião dos que defendem a “profissão”, uma modelo, por exemplo, faz uso de seu corpo posando nua, ou mesmo desfilando; um atleta faz uso do seu corpo, então porque uma mulher, ou mesmo um homem, não podem fazer uso dos seus próprios corpos para atividades sexuais remuneradas?
Em São Francisco, EUA, em conjunto com o Festival de Artes e Filmes de Trabalhadores do Sexo, numa galeria de arte erótica um workshop foi anunciado como uma forma de profissionais do ramo polir suas habilidades.
Numa atmosfera amistosa, 25 alunas trajando jeans e camisetas, que poderiam ser confundidas como estudantes de qualquer outra carreira altamente competitiva participaram das aulas que tratavam de assuntos como marketing, controle de estresse e noções de direito.
Existe até a intenção para que seja criada uma “Faculdade de Prostituição”. Se isso realmente se tornar realidade vai ser muito interessante quando os pais perguntarem para uma filha se ela pretende fazer Medicina, Direto ou Engenharia e receberem como resposta:
_ Já me decidi, vou fazer Faculdade de Prostituição.
Assim que o médico, que foi chamado com urgência para tirar a mãe do desmaio e controlar a pressão alta do pai, for embora, enquanto a menina olha demonstrando não estar entendendo tais reações, como manda a psicologia atual, a família vai conversar para tentar se entender.
A menina vai dizer que desde a pré-adolescência já havia sentido sua inclinação para a profissão e que nos últimos anos vinha se preparando bastante com aulas teóricas e, principalmente, práticas.
Para deixar o pai mais tranqüilo, ela ainda argumenta que ele nem vai precisar gastar dinheiro com cursinhos para ela enfrentar o vestibular, pois ultimamente, nas “baladas”, já demonstrou estar completamente preparada para enfrentar as provas por mais “duras” que sejam.
Assim que o casal fica sozinho, mãe e pai conversam. Discutem que, se não concordarem, a menina poderia ficar frustrada, que talvez até fuja de casa, que sem formação superior não conseguirá construir um bom futuro e coisas do tipo.
No dia seguinte, no café da manhã, o pai anuncia:
_ Minha filha, eu e sua mãe conversamos e concluímos que você pode fazer a sua Faculdade de Prostituição e que daremos todo o apoio!
A garota pula no pescoço do pai e o beija, abraça a mãe e sai correndo para ligar para as amigas para contar a novidade.
O pai olha para o filho menor e pergunta:
_ E você, já sabe o que vai fazer?
O filho encara o pai e diz:
_ Não tenho certeza, mas ouvi falar que, como o ramo da prostituição está em alta, vão precisar de bons gerentes e estão pensando criar uma Faculdade de Cafetinagem, então...

Um dia na vida


Ele se levantou de madrugada para tentar conseguir um atendimento médico no posto de saúde. Já fazia umas três semanas que vinha sentindo dores no peito e elas tinham começado alguns dias depois de ter sido despedido de seu último emprego.
Estava torcendo para que tudo desse certo, porque, no dia seguinte, também teria que madrugar para tentar conseguir uma vaga para seu filho caçula na escola pública perto de sua casa.
Aliás, sua casa era outra de suas preocupações, pois havia sido chamado na COHAB para resolver a questão do financiamento, já que estava com oito prestações atrasadas. Até que antes de perder o emprego ele tinha tentado resolver a situação. Com muito sacrifício havia economizado um dinheirinho, mas no dia em que estava indo para o escritório da COHAB foi assaltado, assim que desceu do ônibus urbano no centro da cidade. Tentou conseguir ajuda, mas não encontrou nenhum policial nas proximidades. Depois foi até o distrito policial, fez o boletim de ocorrência, porém, depois de dois meses, já havia desistido de recuperar o dinheiro roubado.
Quando chegou a sua vez, a moça mal humorada perguntou:
            _ Qual é o seu nome?
            _ João, João Ninguém.
            _ Olha senhor João, consulta com cardiologista só daqui a seis meses!
            _ Mas eu estou sentindo muitas dores no peito.
            _ Não posso fazer nada! O senhor vai querer marcar ou não?
Como não tinha outro jeito, marcou a consulta.
E lá foi o João Ninguém com seus passos lentos e amargurados.
Como tinha pouco dinheiro no bolso, resolveu caminhar até sua casa. Próximo a um terreno baldio, um velho pediu uma esmola, dizendo que estava com muita fome. João Ninguém pegou o dinheirinho que tinha no bolso e entregou ao homem, se desculpando por só ter aquilo. O homem sorriu e disse:
_ Eu sou um mago. E devido a sua bondade, vou realizar o seu maior desejo. Qual é?
João Ninguém pensou um pouco e lembrou-se do seu tempo de infância, quando lia os gibis do Capitão Marvel. Billy Batson gritava a palavra mágica Shazam e se transformava no invencível super-herói. Sempre desejara ser alguém super e contou ao homem do seu desejo.
O velho disse para escolher qual seria a palavra mágica que usaria.
João Ninguém também se lembrou de que, por várias vezes, tinha ouvido dizer que é através do voto é que se podem mudar as coisas no país e resolveu escolher a palavra Eleição como a sua palavra mágica.
O velho disse que assim seria e foi embora.
Por falta de uma cabine telefônica igual ao do Super-Homem, João Ninguém entrou no banheiro de um boteco e gritou:
_Eleição!
Um raio cruzou o céu num grande estrondo e João Ninguém se transformou no Super Nada!

terça-feira, 21 de junho de 2011

A esposa perfeita


Ao ouvir as reclamações dos amigos em relação às suas respectivas esposas, Clodoaldo descobriu que havia se casado com a mulher perfeita. E fez questão de deixar isso bem claro na mesa do boteco.
_ Pra vocês terem uma idéia de como é a minha mulherzinha, quando vai chegando o aniversário dela, é comum ela dizer: “Pra que presente, meu amor. Uma noite de um sexo bem gostoso é mais que suficiente”.
O Olavo fez cara de quem não estava acreditando e Clodoaldo continuou:
_ Sábado passado, por exemplo, ela tinha marcado manicure, mas ao abrir a geladeira comentou: “Não tem mais cerveja na geladeira. Vou dar um pulinho até o supermercado, se a manicure chegar pede pra ela esperar. Se ela não puder, diga que eu marco para outro dia”.
Ao ver as caras de espanto da turma, Clodoaldo continuou contado:
_ Quarta-feira à noite ela me falou: “Tira da novela, muda para outro canal que está passando um jogão”. No ano passado eu esqueci o aniversário do nosso casamento e ela me abraçou dizendo: “Eu entendo amor, era final do campeonato e é claro que você não poderia perder”.
O Xandão ainda meio descrente comentou:
_ Tudo bem, mas em matéria de sexo, como é?
Clodoaldo fez aquele ar de superioridade e disse:
_ Outra noite, na hora do “rala e rola” ela disse: “Vamos aproveitar bastante hoje, porque eu acho que amanhã vou entrar “naqueles dias”. E quer mais? Minha sogra estava querendo passar o fim de semana com a gente, ela descartou e depois explicou: “Não quero que minha mãe passe o domingo aqui, porque ela tira toda nossa liberdade pra fazer o que mais gostamos”!
O pessoal já estava ficando convencido de que Clodoaldo tinha mesmo tirado a sorte grande, mas ele continuou contando as virtudes de sua esposa:
_ A coisa mais comum e ela dizer: “Eu acho que a gente deveria discutir menos nossa relação, que é perfeita, e gastar mais nosso tempo fazendo sexo”!
E quando a inveja de todos estava mais do que evidente em seus olhos, Clodoaldo deu o golpe de misericórdia:
_ Pra definir, de uma vez por todas, a maravilha de mulher com quem me casei, ela vive dizendo: “Não vou negar que dói um pouco, mas sempre que você quiser”...
Foi nessa hora que ele ouviu a voz da mulher chamando:
_ Clodô, acorda, preguiçoso! Não quero nem saber se hoje é domingo, levanta que eu quero arrumar a cama! Minha mãe vai chegar e eu não vou ficar correndo atrás de serviço de casa. Vai, vai logo!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Amigo é pra essas coisas

Rogério chegou ao trabalho e já encontrou Marcão na copa, bebendo café, num copo plástico quase cheio, e com cara de quem não tinha dormido muito bem.
Rogério disse bom dia ao amigo e quis saber:
_ Qual é, Marcão? Que cara é essa, véio?
Marcão tomou mais um gole do café e, sem encarar o amigo, respondeu:
_ Rogério, eu acho que minha mulher está me traindo.
Rogério fez cara de espanto, também tomou um gole do café que acabara de se servir e falou com ar de espanto:
_ Quem, a Carlinha?
_ Claro que é da Carlinha que eu estou falando, ou eu tenho outra esposa!
_ Calma, Marcão! Eu não acredito. A Carlinha? Não, a Carlinha não!
_ Como você pode ter certeza disso?
_ Ora, Marcão, eu conheço a Carlinha desde a adolescência. Ela sempre foi uma menina séria, responsável. Eu não acredito que ela esteja tendo um caso ou coisa assim.
_ Mas acontece que o nosso relacionamento esfriou muito de um tempo pra cá.
_ Há quanto tempo vocês estão casados? Três ou quatro anos?
_ Quase quatro.
_ Pô, véio, é normal! A rotina, o dia-a-dia, faz com que as coisas esfriem um pouco mesmo. É natural, cara!
_ É, mas tem mais. Ontem à noite, ela saiu dizendo que tinha horário marcado com a Dra. Silvia, a dentista dela. Como começou demorar, eu liguei para o consultório e ninguém atendeu. Quando ela chegou, eu me queixei da demora e ela disse que a dentista estava atendendo uma urgência e que ela teve que esperar mais de hora e meia. Pô, cara. A dentista nem no consultório estava à noite.
_ Espera aí, Marcão. Não tire conclusões precipitadas! Talvez o telefone da dentista estivesse com defeito ou coisa assim. Não vá julgando a Carlinha sem mais nem menos. Ela é gente fina, Marcão. Tenho certeza que nunca faria uma coisa dessas com você e com ninguém, véio!
_ Acho que você tem razão. Estou deixando me levar por minha imaginação. A Carlinha sempre foi muito companheira. Deve ser apenas uma fase que estamos passando.
_ É isso aí, cara! Bola pra frente. Tira essas merdas da cabeça e vamos ao trampo porque as contas não esperam.
Marcão deu um abraço em Rogério e foi para sua sala pensando em como é bom ter um amigo com quem se pode contar.
Rogério também foi para sua sala. Tirou o paletó, colocou no encosto da cadeira, ligou o telefone e esperou.
_ Carlinha? É Rogério. O bicho quase pegou. Vamos ter que tomar mais cuidado, porque ele já está bastante desconfiado. Tá, depois a gente se fala. Beijão, gata!
Depois de colocar o fone no gancho Rogério pensou:
_ Pô, eu sou um canalha mesmo, mas a Carlinha é um “negócio” fora do comum!
E antes de começar o dia de trabalho falou em voz baixa:
_ Amigos, amigos, “negócios” a parte!

O amor pode levar à morte


Do fim do Renascimento até meados do século XVIII, o amor apaixonado era considerado como uma doença. Chegou a ser visto como uma ameaça à sobrevivência da espécie humana.A moléstia foi descrita como uma infecção que era contraída pelos olhos, que se instalava no coração, escravizava o cérebro e poderia até levar à morte.
Eu não estou inventado, pois essas e outras maluquices mais, podem ser lidas num documento médico da época.
Para combater o terrível mal, recomendavam-se comer muita alface, tomar banhos gelados e massagear os órgãos genitais com um determinado ungüento. Eu acredito até que na hora de esfregar os tal ungüento, o pessoal fazia isso com uma sofreguidão exagerada, porque afinal, mesmo naquela época, ninguém era de ferro.
Recentes experiências realizadas por um grupo de pesquisadores norte-americanos, utilizando máquinas capazes de mostrar o funcionamento cerebral, comprovaram que o amor apaixonado ativa as áreas mais primitivas do cérebro. São áreas encontradas até nos cérebros dos répteis. Esse estudo mostrou que apaixonar-se é mesmo um dos mais irracionais comportamentos humanos.
Sem querer desmerecer os cientistas, pra mim, isso não é nenhuma novidade, pois pude comprovar, em várias ocasiões de minha já extensa vida. E posso garantir que quando eu me sentia acometido da tal doença não era bem alface que eu comia, o banho podia ser até gelado, mas era bem acompanhado numa banheira de hidromassagem e, em várias ocasiões, tive que usar um ungüento chamado vaselina. Também é verdade que nas minhas últimas paixões, o tal ungüento foi substituído por um outro chamado KY.
Mas voltando à pesquisa, os norte-americanos mostraram que as sensações intensas relacionadas ao amor se alojam no centro do cérebro, em regiões responsáveis pelo sistema de recompensa cerebral. Elas são ativadas de maneiras idênticas à quando se mata a fome ou a sede, ou da satisfação experimentada por um dependente químico ao consumir a droga.
E o amor provoca ainda mais: faz o coração bater mais rápido, as pupilas dilatarem, a pressão arterial subir, a temperatura variar, as mãos tremerem e o estômago apertar.
Porém, uma paixão tem um tempo pré-determinado para acabar; algo em torno de 36 meses, mesmo porque, se a paixão durasse muito mais tempo, o organismo humano entraria em total colapso.
O problema é que quando o prazo de validade se esgota, normalmente, os apaixonados já estão casados.
Então, podemos chegar à conclusão de que os médicos antigos tinham alguma razão: o amor apaixonado pode levar à “morte” mesmo!

Correndo riscos

Quando eu cheguei lá no bar da esquina, já estava instalada a discussão. Alguns estavam até um tanto exaltados ao defenderem suas opiniões. Por incrível que pareça, desta vez o tema não era política e nem futebol.
O pomo da discórdia era: o correto é dizer “correr risco de vida” ou “correr risco de morte”? E eu que pretendia apenas entrar, comprar dois torresmos e ir embora, fui envolvido naquela celeuma cuja solução parecia ser a salvação do planeta.
Dei algumas opiniões tão idiotas quanto à importância que se dava à discussão e também ouvi alguns argumentos tão imbecis quanto os meus. Entre eles, aqueles que defendiam o “risco de morte”, citavam como fonte os atuais repórteres televisivos, principalmente os dos noticiários policiais.
Dei como desculpa que os torresmos estavam esfriando e fui embora. Porém, como sempre acontece, não consegui tirar a pergunta da minha cabeça. Afinal quem estaria certo?
Mais tarde, fui buscar fontes seguras que pudessem me ajudar encontrar a resposta. Nada melhor do que procurar nas obras de grandes escritores brasileiros.
Lendo, vi que José de Alencar, há 150 anos, usou, por várias vezes, a expressão “correr risco de vida”.
Continuei minha pesquisa e também descobri que Machado de Assis, há 100 anos, concordava com ele. Então por que será que atualmente resolveram inverter as coisas?
Mesmo com alguma preguiça (talvez devido aos torresmos, que estavam deliciosos, mas bem gordurosos) resolvi raciocinar.
Quem gosta de jogar, por exemplo, quando aposta corre o risco de perder aquilo que apostou, mas também corre o risco de ganhar bem mais do que colocou em jogo. Esse raciocínio não resolveu nada, mas mesmo assim decide usá-lo na questão específica.
Em qualquer situaçãom quem corre riscos é porque coloca em jogo alguma coisa preciosa que pode ser perdida, no caso, a própria vida. Portanto estaria colocando a vida em risco ou “correndo risco de vida”. Mas quem coloca a vida em jogo está arriscando morrer, o que nos leva a concluir que estaria correndo o risco de morrer, no entanto “correndo risco de morte”. Assim só poderia concluir que as duas formas estão corretas.
Então, só faltava decidir qual das duas formas eu passaria a usar daqui pra frente.
Pensei um pouco e decidi que iria continuar usando “correr risco de vida”.
E porque resolvi assim?
Porque, mesmo que, por ventura, possa estar errado, eu estarei em boa companhia no que se refere ao conhecimento de nosso idioma, enquanto que no outro caso, me desculpem, mas confesso que tenho cá minhas dúvidas.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Nossa vã filosofia


Você já ouviu falar de silogismo filosófico, né? O penso, logo existo, de Descartes, é um exemplo de silogismo.
Outro exemplo: Todos os homens são mortais, eu sou um homem, logo, sou mortal.
Porém, quando se usa o processo de forma equivocada ou mal intencionada passa a ser considerado como um sofisma.
Exemplo: Todos os homens são mortais, eu sou mortal, logo, eu sou um homem. Esse é um silogismo falso, porque nem só os homens são mortais.
É preciso tomar bastante cuidado, porque muitos argumentos podem ser considerados verdadeiros, quando na verdade escondem um sofisma.
Eu já vi em vários carros um adesivo que diz: Deus é fiel. Vou tomar isso como exemplo: Deus é fiel. A torcida da Corinthians é fiel. Logo, Deus é corintiano. Está certo que tem certas ocasiões em que o Timão não perde, porque Deus dá uma mãozinha, mas isso não confirma o silogismo.
Temos outros exemplos de sofismas.
Deus ajuda quem cedo madruga. Quem cedo madruga, dorme à tarde. Quem dorme à tarde, não dorme à noite. Quem não dorme à noite, sai na balada. Logo, Deus ajuda quem sai na balada!
Mais um: Deus é amor. O amor é cego. Steve Wonder é cego. Logo, Steve Wonder é Deus.
E dentro do mesmo raciocínio: Já me disseram que eu sou um ninguém. Ninguém é perfeito. Logo, eu sou perfeito. Mas se só Deus é perfeito. Logo, eu sou Deus. Se Steve Wonder é Deus, eu sou Steve Wonder! Meu Deus, então eu sou cego!
Ainda têm outros: Hoje em dia, quem trabalha não têm tempo pra nada. Já os vagabundos têm todo o tempo do mundo. Tempo é dinheiro. Logo, os vagabundos têm mais dinheiro do que os trabalhadores. Está certo que, num país como o nosso, muitas vezes, isso é verdade.
Mas vamos continuar: Imagine um pedaço de queijo suíço, daqueles bem cheios de buracos. Quanto mais queijo, mais buracos. Cada buraco ocupa o lugar em que deveria haver queijo. Assim, quanto mais buracos, menos queijo. Quanto mais queijos mais buracos, e quanto mais buracos, menos queijo. Logo, quanto mais queijo, menos queijo.
Pra combinar com o queijo, vamos a este: Existem biscoitos feitos de água e sal. O mar é feito de água e sal. Logo, o mar é um biscoitão.
Vamos voltar ao famoso silogismo do filósofo francês Renné Descartes: Penso, logo existo. Loiras burras não pensam, logo, loiras burras não existem.
E dentro da mesma linha: Meu amigo garante que não é bicha, porque namora uma loira inteligente. Se uma loira inteligente namorasse meu amigo ela seria burra. Como loiras burras não existem, meu amigo não namora ninguém. Logo, meu amigo é bicha mesmo.
E para ajudar àqueles que são chegados num goró temos um perfeito: Quando bebemos, ficamos bêbados. Quando estamos bêbados, dormimos. Quando dormimos, não cometemos pecados. Quando não cometemos pecados, vamos para o Céu. Logo, vamos beber para ir pro Céu!
Entendeu o que é sofisma?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Proverbalizando"

Você já reparou que tem sempre alguém com um provérbio para definir uma situação ou para dar algum alento para alguém? Muitos desses provérbios são considerados como sabedoria popular, mas eu, honestamente, duvido um pouco de toda essa sabedoria. Quer alguns exemplos? Então vamos lá.
Se o importante não é ganhar, mas competir, então por que só os três primeiros colocados sobem ao pódio?
Outro ditado antigo, muito citado, é: não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Ora, se esse é um ditado antigo, então por que, antigamente, fazia-se tanta questão que uma moça se casasse virgem?
Se a pressa é inimiga da perfeição e Deus fez o universo inteiro em apenas sete dias, quer dizer que o universo é imperfeito?
Se o castigo vem de avião, vem por qual companhia aérea?
Se não há mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe, quer dizer que um dia o Bem e o Mal vão acabar? Então o que vai ficar no lugar deles?
Se mais vale um pássaro na mão do que dois voando, onde está o IBAMA que não toma providências?
Se tempo é dinheiro, perder dinheiro é perda de tempo?
Se o bom cabrito não berra, o que ele faz? Late?
Se a galinha do vizinho é sempre a mais gorda, porque os vizinhos não trocam as galinhas e ficam ambos contentes?
Se quem tem boca vai à Roma, quem quiser ir à Paris precisa ter o quê?
Se o silêncio é de ouro, por que eu nunca vi ninguém usando uma pulseira ou um colar de silêncio?
Se um cara diz: mulher de amigo meu, pra mim, é homem, quer dizer que ele é bissexual?
Se o mundo todo não vale meu lar, mas, mesmo assim, eu abrir mão e quiser fazer a troca, vão aceitar?
Se Deus ajuda quem cedo madruga, quer dizer que os guardas-noturnos, que dormem de dia, são esquecidos por Ele?
Como podemos comprovar um bom provérbio também é bastante questionável, não é?
Mas, mesmo com todas essas contradições, eu tenho que concordar que se utilizar de um provérbio em determinadas situações é igual saliva de mãe em esfolado; não tem nenhum poder curativo, mas que dá um grande alívio, isso dá!

O inferno ao telefone

A sexta-feira havia sido terrível! Uma cólica renal tinha me pegado no final da tarde e, depois de muito Buscopan na veia, por volta das 5:30 da madrugada do sábado, eu consegui pegar no sono. Exatamente às 9:00 da manhã meu telefone tocou. Não sei quantas vezes deve ter “berrado” até eu acordar (ou quase acordar), porque, antes de tomar consciência, eu estava sonhando que um elefante pisava no meu pé e que eu fazia força para tirá-lo de debaixo da pata do monstro, sem sucesso.
Depois do meu alô, que deveria estar soando parecido com um vá pra "pequepê", ouvi uma voz feminina de alguém que, com certeza, havia tido uma noite muito bem dormida, depois de ter sido muito bem comida.
            _ Bom dia, senhor! Eu sou da Associação... e estamos ligando para estar pedindo a sua contribuição para o nosso trabalho social que...
            O restante não posso precisar, porque dormi de novo antes dela terminar!
            _ Alô! Alô senhor? O senhor está me ouvindo?
            Como eu não tinha a menor condição de raciocinar, disse um fatídico “sim”.
            _ Pois então, senhor! Estamos ligando para estar pedindo a sua colaboração.
            Sem conseguir entender nada do que estava acontecendo, eu perguntei para que seria a contribuição.
            _ Conforme já disse antes, mas eu vou estar reafirmando para o senhor, o nosso trabalho social é de extrema importância, pois...
            E eu dormi de novo, sem entender pra que aquela matraca estava querendo que eu colaborasse.
            Tornei acordar com uma voz já não tão calma que perguntava:
            _ Senhor? Senhor? O senhor por acaso está brincando comigo?
            Eu tive vontade de retrucar à altura, mas não tinha a menor condição física e mental para isso. Apenas consegui dizer que não. E ela, mais insistente do que certos políticos alegando inocência, mesmo quando são pegos com a boca na botija.
            _ Então podemos estar contando com a sua generosa contribuição?
            E eu que já estava quase dormindo de novo, perguntei.
            _ Contribuição pra que?
            A voz do outro lado começou a soar irritada.
            _ Se o senhor não vai estar querendo colaborar, não precisa estar fazendo isso, basta estar dizendo não!
             _ Tá bom, vou estar dizendo não!
            E quando já ia colocar o telefone no gancho.
            _ Mas acontece, senhor, que a nossa obra é de suma importância e a sua colaboração vai estar...
            _ Por que você não vai estar indo pro inferno?
            O meu grito fez com que minha cachorra latisse lá no quintal.
            _ O senhor é muito inconveniente!
            Foi o que ouvi antes de estar ouvindo o tu-tu-tu e de estar sentindo uma forte fisgada no rim.