terça-feira, 5 de julho de 2011

Cinema surdo


Num dos canais de televisão locais da minha cidade foi feita uma pesquisa interativa perguntando no que o telespectador prestava mais atenção durante a exibição de um filme; se na história, na interpretação dos atores ou na trilha sonora.
Quando foi divulgado o resultado eu fiquei, confesso, extremamente surpreso. Em primeiro lugar ficou a opção A: a história com 88%, em segundo a opção B: a interpretação com 12% e a opção C: trilha musical com 0%!
Talvez, por ser músico, isso me incomodou muito. Não sei se a pesquisa, por ter ficado pouco tempo a disposição dos telespectadores através do site da emissora, não tenha registrado com absoluta fidelidade o que o público pensa. Se assim não for, eu acho que ou as pessoas ficaram imbecis de vez ou estão surdas!
Dá pra imaginar a cena do vôo das bicicletas no filme ET – O extraterrestre, sem aquela música maravilhosa de fundo. Dá pra imaginar que alguém pudesse se arrepiar apenas acompanhando o vôo das bikes?
Não acredito!
Dá para imaginar o ataque do tubarão sem aquelas duas notas graves e constantes preparando todo o clima?
Impossível!
Será que Gene Kelly não ficaria parecendo um completo débil mental sapateando na enxurrada sem o “Singin’ in the rain” ao fundo?
Com certeza, o guarda não teria só ficado olhado espantado enquanto ele se retirava, mas teria chamado uma ambulância para conduzi-lo ao manicômio.
Prezados internautas participantes da pesquisa, se vocês não sabiam, desde o tempo do cinema mudo, quando os atores apenas exageravam nos gestos para tentarem mostrar visualmente os seus sentimentos dentro da história, as salas de projeção já mantinham, pelo menos, um pianista para acompanhar as cenas com músicas apropriadas. Assim sendo a música chegou ao cinema antes dos diálogos e efeitos sonoros, ou seja, quando o som não existia nos filmes, a música já era parte necessária.
Desculpem-me, se estou sendo um pouco contundente demais, mas achei um absurdo completo.
E o pior é que o resultado da pesquisa, na realidade, servia de preâmbulo para uma matéria, já preparada, falando adivinhe sobre o quê?
Trilhas sonoras dos filmes.
Torno a dizer, se o resultado da pesquisa retrata verdadeiramente a opinião das pessoas, só posso concluir que, de tanto ouvir essas barbaridades que hoje chamam de música e que fazem sucesso nas emissoras de rádio e televisão, as pessoas obstruíram parte do ouvido, ou do cérebro, ficando incapazes de ouvir aquilo que um dia teve o nome de música, ou seja, a música.
Pra terminar, vocês que participaram da pesquisa façam o seguinte: comam uma bela feijoada sem nenhum tempero que com certeza irão descobrir a importância da trilha sonora num filme.
E se mesmo assim, ainda continuarem a ter a mesma opinião, podem continuar fazendo sexo com bonecas ou bonecos infláveis pelo resto da vida, porque nunca sentirão a diferença.

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