Todo dia nós acompanhamos pela televisão o combate à pirataria de produtos eletrônicos e manufaturados, mas muito pouco, ou nada, se houve falar sobre a biopirataria. Quem conhece um pouco a História do Brasil sabe que a biopirataria contra nosso país teve início quando Américo Vespúcio, em 1501, verificou a abundância de pau-brasil, madeira muito valorizada na Europa, utilizada na preparação de pigmentos para tecidos, pintura em telas e desenhos em papel. E foram séculos de exploração. Mais recentemente, os ingleses, que há muito tempo conhecem o potencial da Amazônia, podem ser considerados os primeiros piratas modernos da biodiversidade da região. O único lugar do mundo onde havia seringueira era na Amazônia. Os índios descobriram suas utilidades confeccionando com o látex bolas rústicas, sapatos e uma seringa que servia para lavagem intestinal (vindo daí o nome seringueira). No final do século XIX e início do Século XX, o inglês Henry Wickman aliciou os índios Tapajós, coletando e selecionando 70.000 sementes e mudas de seringueira. Depois de aclimatá-las no jardim botânico de Kew, em Londres, levou as mudas para as colônias inglesas do Sudeste Asiático, principalmente para a Malásia. Em 1910 a Malásia produziu tanto látex que provocou o declínio do ciclo da borracha na Amazônia, resultando no empobrecimento em massa de sua população. Parece até ironia, mas atualmente, a seringueira esta patenteada nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Japão. Depois foi a vez do cacau, também originário da Amazônia, que foi pirateado para a África pelos suíços e de lá levado pelos ingleses ao Sudoeste Asiático. Em 1860, o botânico inglês Richard Spruce pirateou mudas da chincona (árvore da qual se extrai o quinino, único remédio para combater a malária) para a Indonésia que se tornou a maior produtora mundial da substância medicamentosa. Também a castanha do Pará, típica da Amazônia, foi pirateada e em 1944 já frutificava nas colônias inglesas do Sudoeste Asiático, Malásia, Sri Lanka e Trinidad-Tobago. Ainda hoje, os modernos piratas estão ocupando a Amazônia brasileira contrabandeando as suas riquezas naturais, desvendando abertamente a imensurável biodiversidade amazônica, burlando a frágil legislação, ludibriando os nativos e se fartando as custas da miséria do povo brasileiro, sob a suspeita complacência das autoridades governamentais. As indústrias farmacêuticas, de perfumes e cosméticas faturaram bilhões de dólares com a manipulação de materiais levados sorrateiramente da Amazônia. O medicamento Captopril, por exemplo, que é extraído do veneno da cobra brasileira jararaca e utilizado no combate à hipertensão arterial rende anualmente cerca de 10 bilhões de dólares. Por incrível que pareça até mesmo o DNA de índio amazônico já foi registrado nos Estados Unidos (denúncia feita pelo pesquisador indiano Darani Sudaram, da Universidade Federal do Mato Grosso). Segundo o pesquisador é possível comprar em Nova Jersey, por apenas quinhentos dólares, informações sobre o seqüenciamento genético dos índios de Roraima, que são utilizados em pesquisas. É por isso que quando vejo as "batidas" policiais nos calçadões ou nos centro populares de compras, não posso deixar de achar graça.
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