O mundo está tão mudado que até as velhas fábulas estão sendo alteradas. Vou contar pra você uma nova versão da fábula da Cigarra e da Formiga de La Fontaine.
Durante muitas gerações, a moral dessa história serviu como exemplo para enaltecer o trabalho e a poupança para amenizar os tempos mais difíceis. A formiga que tanto trabalhou estava preparada para enfrentar o inverno, porém a cigarra, que só cantou, sucumbiu aos rigores do frio.
Com a visão do nosso Brasil de hoje esta fábula ficaria assim:
Estava dona Saúva estava envolvida com o seu trabalho, cortando folhas e carregando-as, aos pedaços, para o seu formigueiro, enquanto dona Cigarra só cantava. Bem você já sabe essa parte.
Numa noite muito fria, dona Saúva estava em seu formigueiro quentinha e alimentada, quando ouviu algumas batidas leves em sua porta. Como ela já tinha lido a fábula de La Fontaine, sabia que era a cigarra morrendo de frio e pedindo um pouco de comida. Abriu a porta e viu dona Cigarra tremendo. Quando ia dizer alguma coisa, a cigarra interrompeu:
_ Eu sei, eu sei o que a senhora vai dizer. Eu também já li a fábula, mas estava no roteiro que eu tinha que vir até aqui, então em vim. Tchau!
Quando chegou a primavera. Dona Saúva saiu de sua casa para começar um novo ciclo de trabalho e ficou muda de surpresa. Lá estava dona Cigarra sentada em seu galho todo florido, tocando um violão novo e brilhante, que disse:
_ Não fique com essa cara de boba, dona Saúva, eu explico. Depois daquela noite que estive em sua casa, juntei o resto de forças que tinha e voei até uma cidade. Lá conheci um produtor de discos, gravei uns funks e outras porcarias e ganhei muito dinheiro. Desta forma, como a senhora pode ver, não pereci durante o inverno e tenho o suficiente para todos os outros invernos da minha vida.
Dona Saúva ficou revoltada e enquanto se dirigia para seu local de trabalho achou que o mundo era injusto. Tempos depois a cigarra percebeu que a formiga tinha desaparecido.
Terminou a primavera, chegou o verão e nada de dona Saúva.
Quando o verão já estava dando lugar ao outono, dona Cigarra viu chegar a formiga, toda bronzeada, com roupas transadas e, surpresa, perguntou:
_ Puxa dona Saúva, estou vendo que a senhora também se deu muito bem com o seu trabalho. Parabéns!
Dona Saúva deu um sorriso e disse:
_ Que com o meu trabalho o quê! Depois que vi o tinha acontecido com a senhora eu também resolvi ir para a cidade grande e também fiz sucesso na televisão.
Dona Cigarra ficou mais admirada ainda e comentou:
_ Mas a senhora não sabe cantar!
E dona Saúva explicou:
_ Realmente não sei cantar, mas com uma bunda igual a minha nem precisei. Sou dançarina num grupo de axé, ora!
Moral da história: num país igual ao nosso, pra que moral?
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