Talvez por ser muito só, Alan Delom tomava banho com sabonete Rexona (sempre cabe mais um quando se usa Rexona). Mais uma vez enxugou-se em frente ao espelho e, contrariando ao slogan do produto que usava anteriormente (dura lex, sed lex; no cabelo só Gumex), besuntou os cabelos lisos com Trim e caprichou no topete. Vestiu sua novíssima sunga Helanca, a calça Topeka (Topeka é um estado de espírito) e passou uma boa dose do seu perfume Lancaster, antes de vestir sua camisa Valisère Volta ao Mundo (nunca precisa passar a ferro) e de calçar seu mocassim Samello (Samello colabora para o sucesso do homem). Examinou-se bem e concluiu que estava o maior “tremendão”, na realidade; uma brasa, mora! Antes de sair do quarto carregando todos seus slogans, desligou sua Sonata, que tocava “Quero que vá tudo p’ro Inferno” do Rei. Guardou o LP na capa, mas antes tomando o cuidado de passar a “almofadinha” para tirar a poeira e, confiante no que pretendia, acendeu um Minister (gente que sabe o que quer fuma Minister). Foi até a cozinha de onde tirou de sua geladeira Gelomatic (nós juramos que Gelomatic gela mais), uma garrafa de Grapette bebendo num só gole. Já ia embora mas resolveu tomar mais uma, afinal (quem bebe Grapette, repete). Ao passar pela sala ficou tentado em ligar o seu televisor Colorado para assistir ao Ultranotícias na TV Tupi, mas olhou no seu Omega (quando você toma sua vida nas mãos, precisa de um bom relógio no pulso) e concluiu que poderia se atrasar. Alan Delom caminhou até o ponto de ônibus mais próximo e concluiu que precisava comprar um Volkswagen ou um Gordini, nem se fosse daqueles pé-de-boi, bastante simplificados e que custavam um pouco menos. Concluiu também que, assim que comprasse, usaria gasolina da Esso (só Esso dá ao seu carro o máximo), mas, algumas vezes, pararia num posto Atlantic para se aproveitar dos serviços (Atlantic serviços nota 10). Ainda estava um pouco distante do ponto quando avistou o Mercedes Monobloco com carroceria Caio que se aproximava. Teve que correr, percebeu que transpirou um pouco e se arrependeu de estar vestindo uma Volta ao Mundo e não uma de suas camisas de Ban-Lon (Ban-Lon é sempre moda). Depois de alguns minutos de viagem, desceu no ponto da praça principal e puxou do bolso de trás um pente Carioca para dar um “tapa” no topete. Os brotos faziam o “footing” e Alan, com os olhos, procurou pelos seus “chapas”. Foi nesse momento que avistou Tereza Cristina. Ela vinha de braços dados com uma amiga e Alain se apaixonou de imediato. Num simples olhar concluiu que ela usava Imprévu, de Coty (você não precisa dizer mais nada), Antissardina (o segredo da beleza feminina), delineava os olhos com lápis Palermont (para a beleza dos seus olhos) e, com certeza, desodorante íntimo Vinólia (protege e refresca a parte mais sensível da mulher). Alain resolveu tomar coragem. Foi até o bar e pediu uma dose de Drink Dreher (drinkar é moda com Drink Dreher) e voltou à praça. Quando avistou Tereza Cristina ela conversava com um outro rapaz. Alan analisou de longe e viu que era do tipo que usava US Top (liberdade é uma calça velha azul e desbotada), calçava Makerli (Makerli é que é, Makerli é bom no pé), usava English Lavander (para o homem que já tem tudo) e fumava Chanceller (o fino que satisfaz). Alan Delom ficou tão arrasado que resolveu voltar para casa. Passou no bar, comprou uma garrafa de vodka Orloff (eu sou você amanhã) e algumas garrafas de Fanta (beba laranja Fanta; saborosa laranja Fanta). Voltou para casa para curtir sua dor de cotovelo. Ao chegar, pegou um copo Nadir Figueiredo e colocou uma boa dose de vodka com um pouco de Fanta. Ligou na TV Globo (o futuro já começou) mas não conseguia prestar atenção em nada. Horas depois, já completamente bêbado, lembrou-se que havia se esquecido de tomar Engove (um Engove antes e um depois). Deitou-se em seu colchão de molas Probel e adormeceu para se esquecer de seu infortúnio e, talvez, só acordar depois do ano 2.000 quando, quem sabe, ninguém mais daria valor a um mundo feito de marcas, slogans e etiquetas.
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