terça-feira, 10 de maio de 2011

Clarinda continua a mesma



Ontem eu me encontrei com a Clarinda. Ela trabalhou muito tempo na casa de minha mãe, como empregada doméstica, e acabou fazendo parte da família. Depois ela mudou de cidade para ficar perto do seu único filho que havia casado e já fazia um bom tempo que a gente não se via. Em poucos minutos de conversa, eu percebi que minha querida Clarinda não tinha mudado em nada. Depois de querer saber de todos de minha família, ela resolveu elogiar seus novos patrões. Ela me contou que o patrão é fiscal da Receita. Ela acha que deve ser um trabalho muito chato, porque do jeito que são as letras dos médicos, ficar conferindo as receitas não deve ser mole, não! Disse que ele é um homem muito bom, mas que às vezes fica muito irritado sem motivo. Outro dia ele tinha pedido para ela comprar figo. Ela trouxe e fez bifes de “figo” e o patrão ficou nervoso! Mas ele não tinha dito que queria o “figo” de outro jeito, ora! Eu quis saber mais do filho dela e Clarinda, toda orgulhosa, disse que ele estava se saindo muito bem e que recentemente tinha comprado um carro novinho.  E descreveu o carro como tendo “rodas de maionese”, “farol de milho”¸ “teto ensolarado” e direção “em gráulica”. Mas ela estava um pouco preocupada com um dos netos que é muito doentinho. Logo nos primeiros meses de vida, ele teve uma “hérnia dominical” e precisou fazer uma operação. Depois teve que fazer tratamento com ferro porque sofria de “além mia”. E agora estava precisando fazer uma “outra sinografia” dos rins. Ela disse que o neto mais velho é um rapaz muito bom, estudioso, inteligente e que, inclusive, é “filadélfio”. Eu não entendi o que era isso e ela me ensinou que “filadélfio” é quem coleciona selos! Eu quis saber a respeito da nora e Clarinda foi só elogios dizendo que é uma mulher trabalheira, muito educada, mas que precisa fazer um “rejume”, pois está com o “trigo em série” alto. Mas eu percebi que o xodó da Clarinda é sua neta adolescente, porém com algumas coisas que ela desaprova. A menina tem “pérsio” no “imbigo” e “tatu ágil” na “cóstia”. Ela perguntou mais algumas coisas sobre minha família, mandou abraços pra todos e disse que precisava ir depressa pra “redoviária” para não perder o próximo “onbus”, pois ainda teria que fazer a janta. Me deu um abraço gostoso, que só as pessoas simples sabem dar, e foi embora em seus passos miúdos e rápidos.

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